Glossário

Anafilaxia

É uma reação alérgica grave a um medicamento ou substância.

Numa situação de anafilaxia ocorre uma libertação massiva de substâncias químicas no corpo que podem causar 3 tipos de efeitos:

  • Cardiovasculares: redução muito significativa da pressão arterial (pode condicionar paragem cardíaca)
  • Respiratórios: dificuldade respiratória e um edema (inchaço) na garganta
  • Cutâneos: pele avermelhada com borbulhas e comichão.

Se reconhecida e tratada rapidamente, a maioria das pessoas recupera totalmente.

Em contexto de cirurgia e anestesia, as substâncias que mais frequentemente podem causar reacções alérgicas são: os antibióticos, relaxantes musculares, a cloro-hexidina usada para desinfetar a pele, azul de metileno e o latex.

Se ocorrer uma reacção grave e a cirurgia ainda não tiver começado ou não for muito urgente, esta deverá ser adiada e deverá ir a uma consulta de Imuno-alergologia para identificar o fármaco que causou a reacção.

Awareness

Awareness significa estar acordado quando deveria estar inconsciente.

Durante a cirurgia o anestesista tenta assegurar-se de que recebe anestésico suficiente para estar inconsciente. Se o equipamento que entrega o anestésico ao doente tiver alguma falha ou tiver elevada tolerância aos medicamentos, pode recuperar a consciência acidentalmente.

A maioria dos episodios de awareness são curtos e destes, 2/3 ocorrem antes da cirurgia começar ou depois de acabar.

Os efeitos a longo prazo podem incluir ansiedade, distúrbios do sono, pesadelos e por vezes, stress pós-traumático.

Para evitar que aconteça o anestesista usa vários monitores que o informam sobre quanto anestésico esta a ser dado e como é que o corpo está a reagir. O anestesista usa esta informação e os seus conhecimentos e experiência para avaliar se está a receber a quantidade certa.

Existem ainda monitores da atividade cerebral que permitem detetar awareness acidental analisando a actividade do cérebro. Estes monitores podem ajudar a reduzir a possibilidade desta complicação.

O risco pode estar aumentado em doentes mais novos (25-45 anos), obesos, mulheres, ou durante cirurgias como a cesariana, cirurgia cardíaca e torácica e situações de emergência. Também pode precisar de mais anestésico se consome álcool regularmente, se toma medicação para dormir ou opióides com regularidade.

Blood Patch

Este é um método de tratamento das cefaleias pós-punção da dura. 

Consiste na injeção do seu próprio sangue no espaço epidural. A injeção do sangue neste espaço vai ocluir o orificio por onde ficou a sair o líquido cefalo-raquidiano.

A eficácia desta técnica no tratamento definitivo desta dor é de 90%.

Cefaleias Pós-Punção da Dura

Cefaleia significa dor de cabeça. Esta cefaleia tem características específicas: 

  • Dor forte e persistente na cabeça e/ou no pescoço
  • Pode provocar rigidez no pescoço.
  • Agrava quando se levanta e alivia quando se deita

Ocorre devido a saída de liquido cefaloraquidiano do espaço onde se encontra a medula através do orifício deixado pela agulha. Pode durar até 7 dias.

Este orificio pode ter sido feito pela agulha da raquianestesia (de propósito) ou de epidural (punção acidental).

O tratamento conservador consiste em tomar medicação analgésica como paracetamol com cafeína, hidratação e permanecer deitado. Se isto não for possível ou a dor for muito incapacitante poderá dirigir-se ao hospital onde foi feita a anestesia pois existem outras opções de tratamento como o blood patch epidural ou o bloqueio esfeno-palatino.

Confusão Pós-Operatória

Existem 2 tipos de “confusão” que podem ocorrer após uma cirurgia:

  • Delirium
  • Disfunção Cognitiva

 

Delirium

Surge habitualmente nos primeiros dias após uma cirurgia. 

Os seus sintomas são variáveis e podem ir mudando ao longo do dia. A pessoa pode estar agitada e confusa ou silenciosa e apática e pode não se lembrar do seu nome ou de onde está . Pode ter dificuldade em reconhecer os familiares, ter alterações do sono (como dormir de dia e estar acordado à noite), gritar, praguejar, tentar sair da cama, arrancar os tubos e pensar que o querem magoar.

Nos primeiros dias após a cirurgia, o corpo está num processo de recuperação que pode afectar o funcionamento do cérebro. Algumas causas possíveis desta alteração do comportamento podem ser: infeção, dor, efeito dos medicamentos, desidratação, nível baixo de oxigénio, dieta inadequada, obstipação, distúrbios do sono, não tomar a medicação habitual ou não ter os seus óculos ou aparelho auditivo.

O tratamento consiste em tratar as causas como dar antibiótico para infecções, tratar a dor, hidratar, assegurar uma boa nutrição, tratar a obstipação, fornecer os seus óculos, etc. É aconselhável falar com a pessoa calmamente, lembrá-la de quem é, onde está e o que aconteceu, usando palavras e frases simples.

O risco é maior em pessoas mais velhas, que tenham demência, consumam álcool em excesso, depressão, problemas da visão ou audição, limitação da mobilidade ou se a cirurgia foi urgente.

A pessoa acaba por ficar bem após o tratamento mas isto pode prolongar a sua estadia no hospital.

 

Disfunção Cognitiva

Surge mais tarde após a cirurgia e pode durar semanas a alguns meses.

Consiste em ter dificuldade em realizar tarefas que antes realizava sem dificuldade como: concentrar-se numa história ou filme, memorizar, fazer várias tarefas ao mesmo tempo, fazer palavras cruzadas ou uma lista de compras. 

Estes efeitos tendem a diminuir ao longo do tempo. Apesar de não se conhecer a sua causa, não parece relacionar-se com o tipo de anestesia pois tanto ocorre em pessoas que fizeram anestesia geral como loco-regional.

O risco é maior em pessoas submetida a cirurgia major ou que precisem de uma re-intervenção cirúrgica, com mais de 60 anos, após cirurgias longas, cirurgia cardíaca e se tiverem uma infecção grave ou dificuldade respiratória após cirurgia.

Jejum

Quando vai realizar um procedimento ou cirurgia sob sedação ou anestesia deve estar em jejum.

Quando fica inconsciente sob o efeito de anestesia, há um risco elevado do conteúdo do seu estômago refluir pelo esófago e passar para o sistema respiratório onde pode causar uma lesão grave. Isto poderia resultar em dificuldade respiratória, pneumonia e morte.

As recomendações gerais do jejum para adultos são:

  • Refeições ricas em gorduras: 8h
  • Refeições ligeiras e leite: 6h
  • Líquidos claros (água, chá, café, sumo sem polpa, bebidas ricas em hidratos de carbono): 2h

As recomendações gerais de jejum para crianças são:

  • Refeições ricas em gorduras: 8h
  • Refeições ligeiras e leite: 6h
  • Leite artificial (fórmula infantil): 4h
  • Leite materno: 3h
  • Líquidos claros (água, chá, sumo sem polpa, bebidas ricas em hidratos de carbono): 1h

Se receber informações diferentes do seu hospital, siga as instruções que lhe forem dadas.

Deve cumprir o jejum mesmo que o seu procedimento seja sob anestesia local ou loco-regional pois existe o risco destas não proporcionarem anestesia suficiente. Neste caso poderá precisar de fazer anestesia geral.

Lesão Neurológica

Consiste numa perda temporária da sensibilidade e/ou fraqueza muscular, que podem persistir alguns dias ou semanas, mas na maioria dos casos desaparecem com o tempo.

Uma lesão permanente é extremamente rara.

A lesão neurológica em contexto cirúrgico pode ter uma das seguintes causas:

  • Cirurgia (lesão intra-operatória)
  • Posicionamento durante a cirurgia
  • Uso de garrote
  • Anestesia loco-regional.

Durante a anestesia loco-regional que consiste na administração de anestésico local próximo de um ou vários nervos, a lesão pode ocorrer através de um de 3 mecanismos:

  • Trauma direto do nervo pela agulha ou cateter
  • Hematoma
  • Infecção.

 

Trauma direto

Quando a agulha toca num nervo pode causar uma dor intensa súbita mas isto não significa que o nervo esteja danificado. Não se deve mexer e deve avisar o anestesista para que ele possa resposicionar a agulha. 

O que pode causar lesão do nervo é a injeção de anestésico diretamente no nervo (que é evitável pois causa dor intensa e o anestesista irá reposicionar imediatamente a agulha).

 

Hematoma

É uma coleção de sangue próximo do nervo, que se acumula devido ao trauma de um vaso sanguineo durante a técnica. Uma pequena quantidade de sangue é comum e não causa lesão. Um hematoma grande poderia pressionar mais o nervo e causar lesão. 

Este é um acontecimento extremamente raro e pode ser necessária cirurgia urgente para drenar o hematoma.

Por esta razão não se deve fazer anestesia loco-regional se tiver alterações da coagulação que o predisponham para a hemorragia ou se não tiver parado medicação anticoagulante ou antiagregante plaquetária.

 

Infecção

Uma infecção relacionada com esta anestesia (extremamente raro se cumpridas as normas de assépsia), raramente pode causar lesão neurológica. Uma infeção como um abcesso no local da punção ou uma meningite devem ser tratados imediatamente.

Lesão Ocular

Durante uma anestesia geral, pode ocorrer uma lesão ocular por um de dois mecanismos:

  • Exposição ao ar.
  • Diminuição da perfusão do nervo óptico.

 

Exposição ao ar

Se o olho não estiver completamente fechado durante anestesia geral, a córnea exposta ao ar seca. Isto pode causar uma abrasão da córnea que consiste num pequeno “arranhão”. Os sintomas são dor, visão enevoada e irritação do olho durante alguns dias. Estas lesões costumam cicatrizar sem efeitos a longo prazo.

Para evitar que aconteçam é habitual aplicar um gel nos olhos e tapá-los com adesivo, para os proteger.

 

Diminuição da perfusão do nervo óptico

O nervo óptico e a retina são responsáveis pela visão. 

Uma pressão arterial muito baixa durante a cirurgia pode fazer com que o nervo óptico e a retina não recebam sangue suficiente o que pode prejudicar a sua função. Isto também pode ocorrer se a pressão no globo ocular for muito elevada.

Esta é uma complicação muito grave mas extremamente rara e pode levar a perda de visão. O risco é maior em cirurgias em que fique deitado de barriga para baixo ou com a cabeça para baixo, principalmente se a cirurgia for longa e perder muito sangue.

Náuseas e Vómitos Pós-Operatórios

Náuseas e vómitos são um efeito secundário frequente no pós-operatório.

Normalmente ocorrem imediatamente após o final do procedimento. Vários factores podem contribuir para estes sintomas:

  • Cirurgia: mais frequente após cirurgia ginecológica, abdominal, cirurgias longas, correção de estrabismo e cirurgia do ouvido.
  • Anestesia: quando são utilizados alguns medicamentos como os opióides para tratar a dor, ou gases anestésicos.
  • Indivíduo: mais comum em mulheres, não fumadores, pessoas que enjoam com o movimento ou que tenham tido náuseas ou vómitos numa cirurgia anterior.

O risco de náuseas e vómitos pode ser diminuido se forem dados medicamentos que previnam os sintomas durante a cirurgia (anti-eméticos). Também existem outras técnicas que podem ajudar a prevenir ou tratar como: aromaterapia, acupuntura e acupressão, mas não estão disponíveis em todos os locais.

PCA (patient controlled analgesia)

Uma bomba de PCA é um equipamento que permite que controle o alívio da sua própria dor.

Consiste numa máquina com um reservatório onde são colocados medicamentos analgésicos e que pode ficar ligada ao seu catéter venoso ou catéter epidural.

Quando pressiona o botão da máquina, uma quantidade pré-determinada de medicação é administrada. Antes de a utilizar o anestesista ajustou os seus parâmetros e definiu a dose que é dada pelo sistema, a dose máxima e o intervalo mínimo entre as doses.

Este sistema é seguro e permite-lhe ser autónomo no tratamento da dor.

Shivering

O shivering (tremores) é um efeito comum após anestesia que causa desconforto e pode durar até 20 ou 30 minutos.

Pode ocorrer após anestesia geral ou bloqueio do neuro-eixo.

Ocorre devido à diminuição da temperatura central do corpo que é secundária a 2 factores:

  • Exposição ao ambiente frio da sala durante a cirurgia.
  • Efeitos dos anestésicos na capacidade do corpo regular a própria temperatura.

Para evitar que aconteça é desejável que esteja quente antes, e se mantenha quente durante a cirurgia.

O risco é maior em pessoas mais novas, após cirurgias longas e após bloqueio do neuro-eixo.

O tratamento consiste no aquecimento externo e administração de medicação (petidina ou clonidina).

Tromboembolismo Venoso

Consiste na obstrução de vasos sanguíneos por coágulos.

Estes coágulos desenvolvem-se habitualmente nos membros inferiores mas podem ser levados para os pulmões através da circulação sanguínea.

Quando um coágulo causa oclusão de uma veia nos membros inferiores, os sintomas são: edema (inchaço) da perna, dor e pele avermelhada. Esta condição designa-se de trombose venosa profunda.

Quando o coágulo oclui um vaso nos pulmões pode causar dificuldade respiratória, aumento da frequência cardíaca, dor ou desconforto no peito e tosse com sangue. Designa-se embolia pulmonar e pode ser fatal.

O risco de ter um tromboembolismo venoso aumenta quando se é submetido a uma cirurgia major. Exemplos de outros factores de risco são: fraturas de ossos, estar imobilizado ou ter os movimentos limitados (ex: gesso), gravidez, contracepção oral, obesidade, cancro, trombofilias, idade avançada…

Várias medidas podem ajudar a prevenir o tromboembolismo venoso:

  • Mobilização: iniciar a mobilização o mais rapidamente possível após cirurgia
  • Utilizar meias de contensão elástica ou de compressão intermitente
  • Anticoagulação: geralmente administrada na forma injetável (enoxaparina).
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